domingo, 10 de novembro de 2013

Por que o governo do PT não mudou tudo??

Em 22 de junho de 2002 o então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou a sua “Carta ao Povo Brasileiro”.

Esse documento foi parte da estratégia de campanha do PT e em tese foi direcionado ao povo, a população votante, mas na verdade o alvo foi outro, foi a classe média, os investidores, os empresários, banqueiros, em suma, as pessoas que sempre viram o Luiz Inácio como um sujeito que iria destruir a economia. A própria apresentação do documento já mostrava um Lula diferente, claramente cuidado por marketing político, com terno e gravata, barba aparada, aparência e discurso mais "clean".

Nesse documento ele basicamente garantia que o funcionamento da economia e que os contratos seriam respeitados e de nenhuma forma aconteceria alguma "revolução". Também tinha as bases da política partidária do PT.

Agora, por que isso tinha de ser garantido num documento?

Bom, pra entender isso vai ser necessário um retrospecto. Para quem não lembra, em 1989 houve a eleição para presidente, a primeira em que haveria o voto direto. Essa eleição foi o paradigma das eleições no Brasil, mostrou não somente como a política funciona aqui, mas também como a própria sociedade funciona.
Houve uma quantidade imensa de candidatos, mas quem tava ali para concorrer mesmo era o Leonel Brizola, o Lula, o Mario Covas, o Maluf (apoiado em SP, com o maldito "rouba, mas faz") e o Ulisses Guimarães. Haviam outros candidatos, sim, mas esses eram os que historicamente teriam chance.
Mas aí entra como funciona a visão que o nosso país tem de política.
Com esses candidatos se tinha basicamente duas opções, quebrar com status quo (Lula e Brizola), e manter o status quo (Mario Covas, Maluf e Ulisses).
O brasileiro sabia que precisava mudar, que a roubalheira que tinha acontecido desde a ditadura, o desmando político econômico e principalmente, o modelo de gestão, tinha que mudar. Mas eles tinham medo, afinal, vinte e um anos dizendo que comunista come criancinha faz com que qualquer um tenha sua perspectiva alterada, e sim, isso marcou e vai marcar PRA SEMPRE a visão política do brasileiro (só pra citar um exemplo, na eleição da Dilma um argumento que ainda era utilizado era chamar ela de terrorista, sendo que se está falando dum período em que um governo achava CORRETO estuprar uma pessoa ou torturar um bebê, logo, esse era um estado de exceção, mas não vou me estende que isso é outro assunto).
Em suma, a direita era direita demais, mas a esquerda dava medo.
Aí entra a figura que vai ser sempre uma constante na nossa política: A bala de prata.
A bala de prata é uma analogia para uma solução fácil (dar um tiro e matar de uma vez) para um problema difícil (matar um monstro).
A bala de prata de 1989 foi feita com muito cuidado, lapidada com muito esmero. Era um sujeito do nordeste, bem mais jovem que os candidatos, com um histórico (fabricado com ajuda da mídia e de marketing político) de honestidade e lisura. Gente, isso foi feito com muito cuidado, pra se ter ideia os meios de comunicação nem falavam que ele já tinha sido do PDS (antiga ARENA, o partido mais a direita do Brasil).
Eu mesmo, antes de procurar saber um pouco mais, fiquei empolgado (pô, eu tinha 16 anos e tava vendo um sujeito FAZENDO alguma coisa, né). Mas com um pouquinho de pesquisa qualquer um ia saber que ele era ligado ao coronelismo no nordeste e aos piores princípios políticos da época. Na eleição eu já sabia quem era o Collor, mas uma grande massa de gente não sabia, afinal, não existia a internet, e pra piorar a mídia colocou esse sujeito como a grande bala de prata.
A campanha foi suja. Tinha gente falando, principalmente em São Paulo, que se o Lula ou o Brizola ganhasse eles iam confiscar a poupança, iam trazer a moratória para o país, iam cancelar contratos e tal. Foi claramente tática de campanha.
Bom, o Collor ganhou, se mostrou um PÉSSIMO administrador, fez inclusive o que ele disse que o Lula ia fazer (confiscar a poupança e todo dinheiro em banco na época). Acabou com os subsídios a industria, fez uma lenha na economia, um desmando tal que levou ele a ter sua candidatura cassada.
Bom, na eleição seguinte, em 1994, foi a vez do Fernando Henrique, o ministro da fazenda (peraí, ele não é sociólogo?) que acabou com a hiperinflação.
Essa foi bem simples, ele simplesmente falou que se fosse eleito um candidato mais a esquerda a inflação voltava.
Ele foi apresentado como um intelectual que se interessava pelo social, um verdadeiro gênio que seria capaz de resolver todos os problemas do Brasil, em outras palavras, mais uma bala de prata.
O plano real foi feito e executado antes do seu governo ser efetivamente eleito, mas a chance de algum candidato contra o argumento do retorno da hiperinflação era simplesmente indestrutível. Foi eleito no primeiro turno.
O Sr. Fernando Henrique teve a oportunidade de juntar pela primeira vez no nosso país legislativo e o executivo de forma a realizar reformas que o nosso país precisava urgentemente.
Mas adivinha o que ele fez? Sentou em cima do brinquedo e não fez nada, deixou pra fazer depois, visando uma reeleição, e aí sim, ele usou esse recurso de executivo e legislativo para votar de forma rápida uma emenda de reeleição para ele mesmo correr a eleição de 1998 (eu posso estar sendo um pouco severo com as mudanças que o governo FHC fez, ele realmente fez mudanças importantes nas questões bancarias e tal, mas ele fez somente o mínimo, MUITO aquém do que o país precisava na época e que ele poderia ter feito). Basicamente ele postergou o que ele deveria fazer para esse segundo mandato.
Bom, a eleição de 1998 foi assim, se você votar em outro cara a inflação volta. Mesma parada, primeiro turno, não deu pra ninguém. Como não dava pra ficar mais, o Sr. Fernando Henrique (a gente da azar com Fernando, né?) se preocupou com uma agenda pra lá de controversa. O objetivo desse mandato era instituir um estado mínimo o mais rápido possível. Vem aí a ampliação das privatizações. seu objetivo era privatizar Furnas, Vale do Rio Doce, Petrobras, Telebras e etc. O desemprego e o PIB estavam muito ruins, a industria brasileira estava em frangalhos e isso estava afetando todo o país. O pior era que o discurso da presidência era que a culpa era dos tempos (globalização) e da sociedade, em nenhum momento foi dito que eles tinham culpa.
Nesse cenário vem a eleição de 2002.
O esquema de "somente o governo atual vai manter a inflação sob controle" não funcionava mais tão bem, por que já fazia oito anos que a inflação tinha se estabilizado, mas nenhum beneficio concreto estava aparecendo para as pessoas.

Daí que vem a carta aos brasileiros, que é um documento escrito pra falar assim: CALMA, eu não vou desfazer contratos, não vou entrar em moratória, não vou pegar dinheiro da poupança nem nada disso, meu objetivo é apenas direcionar a política e a economia para a CENTRO ESQUERDA.

Minha critica agora aos que exigem uma revolução no legislativo por que o PT está no governo.

Entendam, o Lula só entrou por que FALOU que não ia fazer revolução, só ia mudar o norte político e econômico, e foi isso que ele fez e que a Dilma tá fazendo. 

Se você quisesse DE VERDADE uma mudança mais profunda, teria votado no Lula ou em outro candidato de esquerda em: 89, 94 e 98. Se você não votou, desculpe, mas você NÃO QUER uma mudança mais forte.

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