terça-feira, 12 de outubro de 2010

O pobre não tem direito nem a orgulho nem a história.

Eu sei o mundo em que vivo, não sou nenhum iludido nem nada disso, sei que o homem é o lobo do homem, mas ainda me impressiona a capacidade da maquina social vigente de manipular até a visão histórica da realidade para que ninguém pobre possa ter uma história de realização e superação.
Muitos dirão que isso é passado e que as coisas estão mudando, mas ainda me assombro em como esse processo é lento e como as referências históricas, os mitos do Brasil, ainda são ligadas a heranças de mitos oligarcas e do esquecimento da nossa história recente e nem tão recente assim.
Vou dar um exemplo, alias o exemplo que me levou a escrever esse texto.
Eu fiz um colégio do SENAI, me formando artífice metalúrgico. Esse colégio era além de um centro acadêmico, um centro gerador de dignidade e cidadania.
Como esse colégio fazia isso? Simples, além de formar o aluno numa profissão, devido a uma ligação histórica dessa instituição com a rede ferroviária federal, inseria esse aluno num contexto de futura absorção na dita empresa, sendo que a empresa rede ferroviária ainda pagava uma ajuda de custo para esse aluno nesse período de aprendizagem.
Não era simplesmente dar dinheiro para um rapaz em formação, mas era assinar a carteira, dar salário, conta no banco, assistência medica e psicológica, formação profissional e um futuro pra esse rapaz.
Tenho muito orgulho de ter permanecido como aluno nessa instituição. Foi crucial na minha formação como cidadão e se hoje sou um profissional na área técnica, formado, trabalhador e conhecedor das oficinas da vida do Rio de Janeiro, é graças a esse colégio.
Esse foi o primeiro colégio técnico do Brasil, e quando o cursei, exibia com orgulho o titulo de CFP (Centro de Formação Profissional) 1. Na época pertencia ao SENAI, mas como instituição, era mais velho que o próprio SENAI!
Vi peças (os alunos realizavam TAREFAS, peças que aprimoravam suas habilidades construtivas e permitiam aos alunos escolher um perfil profissional que lhes fosse mais habilitado) que foram feitas na época da segunda guerra mundial como esforço de guerra.
Imagino a quantidade imensa de histórias que esse colégio tem (espero sinceramente que exista alguém que se lembre de alguma dessas histórias).
Bom, procurei na internet alguma referencia sobre o que eu acabei de escrever acima e pra minha surpresa, não existe NADA sobre a instituição nem sobre as referencias ditas.
Procurei alguma coisa sobre o engenheiro Silva Freire e não achei nada também.
Não existe. Não existe por que ninguém se interessa. E ninguém se interessa por que ninguém conhece.
Imagino quantas situações, quantas histórias, quantos lugares, instituições e personalidades não são conhecidas e o quanto foi perdido nos vários períodos de ignorância que aconteceram no nosso país.
O Brasil não conta a historia do pobre, não tem orgulho dos pobres, dos desvalidos, dos sem poder.
Como no velho ditado: O boi só é levado pro abate por que não sabe a força que tem, e nós, povo não devemos saber a força que temos.

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